Era um final de tarde num
despretensioso domingo, eu estava sentado no chão de uma pracinha em uma
pequena cidade no interior da Amazônia, no Estado do Pará. Estava fazendo desenhos para colocar em um calendário que seria publicado no ano seguinte e precisava retornar para Belém naquela dia.
Dois garotos se aproximaram de
bicicleta e começaram a olhar o que eu estava fazendo, um deles perguntou:
– Moço, por quê o Sr. está
desenhando?
Expliquei que era um trabalho e buscava um ponto típico da cidade para mostrar em um calendário. Ele me
disse que, geralmente, quem fazia isso na cidade eram eles. Pedi então, que
me mostrassem o lugar em que os moradores mais se identificavam com a cidade. Apontaram para uma árvore frondosa que ficava em uma rua ali perto.
Hoje fui convidado para dar as boas vindas aos calouros do Curso de Artes Visuais, da Universidade Federal do Pará, a ideia era mostrar um pouco do que tenho produzido artisticamente. Lá pelo meio da palestra, mostrei as aquarelas do calendário e
comentei o episódio do encontro com os garotos que aconteceu há dez anos atrás. Foi aí, que
alguém sentado no fundo da sala pediu a palavra. Para surpresa de todos e minha
principalmente, ele se apresentou como sendo um dos garotos da bicicleta e
comentou o quanto aquele episódio havia sido marcante para os dois e o que aconteceu na vida deles depois daquele encontro. O (re)encontro na sala foi
emocionante. O relato dele foi mais emocionante ainda.
Como diria Lenine..."ninguém faz
ideia de quem vem lá".
MB.
PS: Dedico esse post ao Silvio e ao Junior, os garotos da bicicleta, que enfrentaram tempestades e mares bravios na busca do caminho.
Esse era o desenho que eu fazia quando os garotos se aproximaram.
O esboço da árvore.
A aquarela que foi para o Calendário.
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